Em 2012 surgiu o sonho, o de dar uma volta ao mundo de barco em família! Tínhamos na altura uma filha, Benita de 3 anos, e o nosso desejo de alargar a família fez-nos adiar um pouco mais esta viagem. Em 2013 nasceu o Leonardo e reunimos as primeiras condições para a realização desta, Read More
The journey began long before we sailed to the infinite blue, because dreaming, planning and building is already part of the journey. At this stage we were already invaded by the excitement, already feelling the taste of what was about to come. And when does it end? It was certainly not in the day we returned to the Marina of Ponta Delgada, almost two years after the departure, because a month after that date we still live for it, we live connected to this trip that is not limited to the action of circumnavigating the world with children, is bigger, it is an inner journey, of overcoming physical, psychological and social limits. It is a trip that is still going on and with so much to give us and those around us. We had the invitation of the Clube Naval de Ponta Delgada and two schools to tell our story. We will try to inspire the participants in the Space Apps Challenge, an international competition hosted by NASA here at NONAGON in Lagoa 🙂 and there is more to come!
We live in times of joy, filled with re-encounters with friends, with the family, with those who traveled with us through the blog, with people we inspire and touched us so much. We are daily confronted with the grown-up children, the restored buildings, the restaurants filled with tourists, with the island that has also changed. It is good to see how, at least for now, local accommodation overlaps the construction of large hotels, the Government betting on sustainable development, the incinerator that has not advanced, the Tremor that could already be called Earthquake! It is not difficult to adapt to earth life, which although more complex than life at sea, is also more filled with comfort and friendly hands. Benita and Leonardo go hand in hand to the school they have chosen and come back sweaty with joy and news to tell. We, adults, digest slower, we’re glad to be back but still not sure which way we want to go. The journey, which will be forever inside us, is still throbbing. We are excited to tell the stories and think for ourselves about certain experiences that have made us grow. We perceive more and more the dimension of what happened to us, or rather what we made happen! Jules, the septuagenarian English friend, born in Eritrea, whom we met in Sudan, and who made with us the last crossing of this circum-navigation said “you have not come into this world to face reality, you have come to create reality ! “. Wise words, friend Jules, we are responsible for our reality, however strange and painful this may seem at times, this gives us immense power. Now, we believe, we can make everything happen, starting by dreaming!!
Graham Hill numa palestra TED defende que retirar o supérfluo da vida é criar espaço para as coisas boas e propõe a seguinte formula: menos coisas, menos espaço = menos CO2, mais € e mais felicidade! 😀
Quando há dois anos deixamos a nossa casa para viver no veleiro Benyleo passamos por esse processo de simplificação com agrado. Seleccionar e deixar o supérfluo para trás soube bem, passar a viver com menos fazia sentido e facilitou-nos a vida. Porque uma viagem à volta do mundo implica desprendimento, esvaziar para fazer face ao tanto que a odisseia nos vai trazer. Tivemos de absorver tanto e tão rápido, adaptarmos-nos e superarmos-nos vezes sem conta, que não houve, nem há, tempo ou espaço para o desnecessário. Às vezes, a voz do consumismo e do materialismo ouvia-se perante as tantas maravilhas que o ser humano e a Natureza constroem mas viver num barco pequeno e que necessita estar leve para navegar bem, falava sempre mais alto. E neste sentido, estamos a voltar aos Açores com bem menos bens materiais do que tínhamos quando partimos. Quase não levamos recordações materiais, mas levamos tantas das outras que jamais se perdem ou estragam 🙂 e que até têm tendência a melhorar com o tempo. E levamos também uma preocupação, cada vez mais vincada, a necessidade de proteger os oceanos e o equilíbrio deste nosso lindo planeta azul. Vimos tanto lixo no mar… No Sudeste Asiático, vimos com tristeza um Índico moribundo, sem peixe e tão cheio de lixo, que mesmo longe da costa, já sem terra à vista, era visível a mão nojenta de quem não respeita o espaço que é todos nós! Não respeitam sequer quem os alimenta…
E por isso insistimos na divulgação de boas práticas a bordo, muitas delas também aplicáveis a quem vive em terra!
Desde o início desta viagem que me faz sentido partilhar o que nos propusemos a viver. A circum-navegação não é um sonho raro mas efectivamente fazê-la é sim, muito raro! Principalmente nos moldes a que nos propusemos, sozinhos, já que há outras modalidades, como a ARC – Round the World Rally que é uma organização que reúne grupos de barcos interessados, organizando-lhes esta odisseia e simplificando-lhes bastante a aventura!
Durante estes quase dois anos de viagem conhecemos muitos velejadores, agora é o nosso meio, a nossa pequena comunidade e não conhecemos mais nenhuns malucos com este objectivo concreto. Com certeza que os há mas a grande maioria saboreia o mar e os recantos do mundo com outra paz. Pois à custa desta loucura temos vivido momentos fantásticos mas também fases muito difíceis, fases que não se partilham no facebook por vários motivos, por poderem soar a queixume exagerado, por recearmos o julgamento fácil de quem não se pode ou não se consegue pôr no nosso lugar, por serem momentos íntimos, porque não são bonitos, porque não valem a pena registar… Se até a nossa memória se encarrega de os modificar e até por vezes esquecer, para que é que nós os havíamos de partilhar? Não é por queremos passar uma imagem da família feliz, da família perfeita, não, não queremos, não precisamos, não é verdadeira, apenas, na maioria das vezes só a parte boa é digna de registar e publicar. Procuro transmitir no nosso diário de bordo algumas das nossas dificuldades mas sem me repetir muito embora elas se repitam e persistam…
Nós, vocês, a Nestum, todos sabemos que as famílias perfeitas só existem na nossa cabeça, são apenas um ideal, mais nada! Nós e vocês somos verdadeiros, choramos, discutimos, irritamos-nos, perdemos a paciência, somos mais intolerantes do que gostávamos de ser, somos reais! E a Nestum escolheu associar-se a nós assim, por não querer “vender algo artificial”, porque embora já seja um conceito, quer preocupar-se com o ambiente e isso já lhe tira o sorriso que antes parecia eterno e perfeito. Os tempos mudam e onde alguns apenas vêem uma estratégia de marketing, nós vemos uma nova tendência, uma boa, de preocupação ambienta! E nós vamos apoiar sempre as iniciativas boas, tenham elas as intenções que tiverem, desde sejam para proteger o nosso incrível planeta azul já valem, ignorar e não fazer nada é que não!! 😉
Soubemos de um português, em Lisboa, que se está a organizar para como nós se lançar na aventura de uma circum-navegação. Um amigo em comum perguntou-nos se podíamos partilhar a nossa experiência, ao que respondemos afirmativamente com o imediato conselho de que o faça num mínimo de três anos e não em dois como nós. Porque essa, foi uma dura descoberta! Sentimos frequentemente que estamos a fazer uma viagem apressada ao invés de uma viagem que devia estar a ser saboreada. Mesmo sabendo que nunca iríamos explorar todos os lugares por onde passássemos é com pesar que deixamos a maioria dos locais e suas gentes. E falamos em três anos, também, porque os dois anos nos estão a obrigar a navegar em condições desfavoráveis. Como agora, que subimos a Indonésia contra ventos e correntes para conseguirmos apanhar a época favorável mais à frente. E nestas alturas recordamos o nosso amigo Ângelo Felgueiras, que pergunta como é que se come um elefante e depois responde que é às fatias! Às vezes assustamos-nos quando vemos o tamanho do elefante, mas seguimos em frente, e fatia a fatia avançamos até alcançar o objetivo. Temos tido dias de apenas percorrermos uma dúzia de milhas, noutros as bóias, as redes e os próprios barcos dos pescadores, por vezes sem luz, obrigam-nos a recolher e ancorar ao final do dia, e já aconteceu termos de voltar para trás, tais eram as condições meteorológicas adversas. Chuvas, vento e falta de visibilidade têm pautado os nossos dias desde que saímos de Bali. E nós angustiamos, mas não desistimos, num dia a fatia é bem fininha, no outro será maior!!
Percebemos também, que em dois anos, não será possível fazermos a rota que inicialmente planeámos. Já não temos tempo para ir a Madagáscar, Moçambique, contornar África do Sul e navegar até ao Brasil como sonhámos, e a opção que nos resta é subir o Mar Vermelho, passar pelo canal de Suez e chegar à Europa pelo Mediterrâneo. Uma rota também interessante do ponto de vista turístico, mas bem mais arriscada do ponto de vista da navegação. Teremos de atravessar o Golfo de Áden, conhecido pelos ataques piratas. Teremos de contornar a Somália e evitar os mal-afamados Somalis… E foi nessa fase, de grande preocupação, que recebemos o apoio de uma entidade governamental – a Marinha Portuguesa escreveu-nos a disponibilizar-se para nos acompanhar nesta delicada travessia. Saiu-nos a sorte grande, recuperamos a confiança e agora miramos o futuro com mais tranquilidade. É interessante pensar que viemos para o mar porque ambicionávamos uma vida com mais aventura, sem rotina e ao sabor do vento, mas agora que a conquistamos, estamos a dar valor à tranquilidade, à estabilidade e à previsibilidade! E não é esta a nossa natureza? Querer o que não temos? Mais uma vez nos confrontamos com a necessidade de valorizar o que já temos, o que fazemos e com quem estamos. E que se calhar, já temos o que realmente importa. Ou que no mínimo, estamos a trilhar o caminho que pedimos! 😉
(Publicado no Jornal Açoriano Oriental a 18.2.2018)
A necessidade desenvolve o engenho e com certeza não foi coincidência que a Green School tenha nascido em Bali. Esta ilha da Indonésia é o perfeito e mais triste exemplo do que a sobrexploração turística faz a uma ilha paradisíaca… O mar é o mais poluído que já vimos nesta meia volta ao mundo e em terra, parece que os “homens do lixo” estão de greve há anos!…
À primeira vista Bali encanta, as praias ao longe são lindas, o verde vinga em qualquer cm2, o misticismo do hinduísmo e a incrível oferta turística quase nos cegam. Mas por muito que o entusiamo iluda sente-se a poluição do ar, vive-se o trânsito diariamente caótico, vê-se o lixo pelas ruas e cheira-se a podridão do mar…. Já são 40 anos de turismo desenfreado e o processo deve ter sido tal maneira gradual que os habitantes parecem conformados com o que lhes resta e continuam a pedir mais turistas… Não estão informados de que as suas maiores riquezas lhes foram roubadas – a paz e a saúde!…
Li um artigo científico de que não há um exemplo de uma localidade que depois de explorada turisticamente tenha ficado melhor e, no entanto, essa é a aposta de Portugal e dos Açores… dizem que é o Nosso destino!! Medo, agora, dá-me medo… Também aqui gritam Sustentabilidade, Ecologia e Biodegradável aos sete ventos… E também aqui o dinheiro está acima de tudo isso…
Mas nem tudo é mau e a esperança acende velas novas todos os dias. Foi em Bali que surgiu a Green School em 2008, uma escola toda feita em bamboo no meio da selva, onde a Ecologia, o Biodegradável e a Sustentabilidade se juntam à Empatia, Confiança, Responsabilidade, Integridade, Equidade e Paz para erguerem os seus pilares. Uma escola sem paredes que está a educar cerca de 400 crianças de 31 nacionalidades para serem pensadores e atores na proteção e preservação ambiental deste nosso planeta. Falam de educação holística, empreendedorismo social e aprendem por projetos. Vimos alguns, uma estufa-laboratório de hidropónica que aproveita a água de uns velhos lagos de peixes para cultivar legumes, todo desenvolvido por alunos, o autocarro escolar que anda com o óleo da cozinha (transformado em biofuel, que por sua vez depois de usado se transforma em glicerina e com a qual fazem sabonetes e detergentes que usam na escola), a estação de divisão do lixo e a zona de compostagem, também geridas por estudantes. À entrada têm uma loja aberta ao público de venda de roupas e artigos em segunda mão, para salientar a prioridade da reutilização e suprir necessidades da comunidade. Sim, também têm preocupações e projetos comunitários, qualquer um pode ir à escola abastecer de água potável, filtrada pela escola, disponibilizam aulas de inglês quase-gratuitas (em troca de meia dúzia de kg de lixo recolhido na comunidade, para sensibilizar) e as crianças locais podem recorrer a bolsas de estudo, financiadas por mecenas e pelas visitas dos turistas à escola.
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